quinta-feira, 11 de março de 2010

Espanando as Teias de Aranha.

Pra que os mecanismos do Blog se mantenham saudáveis, vou aqui com mais um dos contos que publiquei no Culturanja de 28 de Fevereiro. Teremos vários.

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E estamos nós, outra vez, num dos períodos que eu mais gosto do ano: a Quaresma. Só seria melhor se ao invés do calorão do verão, esses quarenta dias se passassem no inverno, sem toda essa transpiração desnecessária.

É durante estes quarenta dias que, enquanto os santos, os anjos e todo mundo lá das altas rodas está ocupado em penitência, meditando e refletindo, os espíritos matreiros saem pra atazanar as simples pessoas e acabam gerando aquelas ótimas histórias de assombrações. É o tempo do Saci-Pererê, do Lobisomem, da Mula-sem-cabeça e do Curupira. É quando as bruxas saem pelas cidades escolhendo seus alvos, os demônios ficam a cochichar nas nossas orelhas e nos colocando em enrascadas, isso quando não aparecem na nossa frente, loucos para negociar alguma coisa em troca da nossa alma.
Halloween que nada! Onde já se viu trocar 40 dias de pura festança sobrenatural por uma noitezinha de novembro, com sustos aqui, travessuras acolá. Sou do Movimento Viva a Quaresma (mesmo que na morte!). Pra completar, deixo vocês com a primeira história sobrenatural de algumas que virão:

O Ramalhete de Flores do Campo.
Gravura por Paulo Tanoeiro

Seu Orlando tinha uma floricultura que ficava de frente pro cemitério. Seu negocio ia de vento em popa, afinal, morre gente todos os dias e não tem lugar mais propício para uma floricultura do que ali, em frente ao cemitério. Já perdeu a conta de quantas consciências salvou, pelos mais de 10 anos que estava ali, ao vender uma flor para aquele ente querido e quase esquecido.

Diferentemente dos clientes emergenciais, ele tinha alguns costumeiros, como a dona Olga, que aparecia todas as quartas-feiras, próximo do horário de fechar a floricultura, lá pelas seis horas da tarde. Ela era uma senhorinha, nos seus setenta e poucos anos, mas aparentava muita saúde e lucidez. De passos firmes, chegava no balcão e pedia o seu ramalhete de flores do campo, conversava um tiquinho com o Orlando, saia em direção ao cemitério e entrava pelo portão.

Pelo pouco que conversaram, Orlando concluiu que Dona Olga era viúva há muito tempo e, decerto levava flores ao finado marido todas as quartas-feiras. A única queixa que Olga fazia era sobre a ausência dos seus filhos e netos, faziam muitos meses que eles não a visitaram e ela estava se sentindo só e abandonada. “Ainda bem que ela tem o túmulo de seu marido para visitar” pensava Orlando, algum exercício de afeto para ocupar seu cotidiano.

Num dia cinzento desses, morreu um grande amigo do Orlando, e ele manteve a floricultura aberta apesar da dor no coração. Mandou uma bela coroa de flores para fazer-se presente no funeral, mesmo estando do outro lado da rua. O enterro seria perto das seis da tarde, naquela terça-feira.

Quinze pras seis da tarde Orlando fechou a floricultura e foi ao enterro de seu amigo. Depois do sepultamento veio caminhando aleatoriamente pelo cemitério e ficou espantado com o numero de conhecidos seus que estavam lá, mortos. Também conseguia reconhecer alguns dos arranjos de flores saídos de sua floricultura, definitivamente era um bom negócio. Parou estarrecido em frente a um túmulo.

As flores do vazinho já estavam secas, a foto era de uma senhora de ar imponente e sério, mas de olhar feliz. Olga Albuquerque do Nascimento (17/08/1932 - 23/11/2005). Era a Dona Olga, sua cliente contumaz da floricultura. A data da morte já completava alguns anos.

Ainda pálido e com o pensamento a mil, foi até sua floricultura, reabriu as portas, fez um belo ramalhete de flores do campo e o levou até aquele tumulo. A partir desse dia, Orlando repetia o ritual: às quartas-feiras levava um ramalhete de flores do campo para a Dona Olga, e jamais percebeu qualquer sinal de outra pessoa, parente ou amigo, visitando sua singular cliente. Sentia-se contraditoriamente feliz ao perceber que Dona Olga nunca mais apareceu pra comprar um ramalhete de flores do campo.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Nevilton : Blog MTV !

Já faz um tempo que está no ar, desde o dia 24 de Fevereiro, mas é com muito prazer e alegria que divulgo por aqui a existência do nosso Blog MTV! Pois é, Nevilton agora tem um Blog no Portal MTV Brasil, mais um canal pra nossa banda falar com você que acompanha nosso trabalho.

Se não visitou ainda, não perca mais tempo, corre lá!



foto por Deby Setton (Amerê Coletivo)