segunda-feira, 4 de maio de 2009

A "Cena Umuaramense"

Esse texto saiu no Cultura & Arte desse domingo, 03 de maio. Coloquei o texto separado aqui pra facilitar a leitura de quem não curte ler o PDF do jornal (que está logo ali embaixo).

Comentários seriam ótimos! :p



Estava vasculhando os meus arquivos e encontrei uma enquete que respondi para o jornal Diário de Notícias, que circulou em Umuarama durante o ano de 2008. Esta enquete, gerenciada pela Ane Pacola, tinha como objetivo colher respostas de várias pessoas, de várias áreas, sobre questões do município como a segurança pública, educação, saúde e outras tantas, incluindo-se aí a Cultura. Sobre mim, artista e produtor cultural, recaiu a missão de responder sobre este ultimo tema. A matéria, com todas as perguntas e respostas das várias pessoas, foi publicada edição de 26 de junho de 2008.

Isso já faz quase um ano, a administração municipal mudou, e por conseqüente as políticas públicas também. Se para melhor ou pior, só saberemos no futuro. Sobre os outros temas eu não tenho gabarito pra falar, mas gostaria de fomentar a reflexão sobre como está a cena cultural da cidade. Toda reflexão é saudável, ainda mais quando usa um cenário antigo (ou nem tanto) como base. Certamente, exceto por algumas sinapses, não temos nada a perder.


O cenário cultural da cidade é proporcional ao tamanho dela?

Não mesmo. Estou certo de que umas 300 a 400 pessoas (jogando alto) criando e consumindo cultura numa cidade de quase cem mil habitantes não seja algo proporcional, isso é menos do que 0,5% da população. Conheço Umuarama desde 1991 e não me lembro de ter visto um cenário de algo, nem de cultura e arte, nem de esporte, nem político. É costume da cidade usar o que já se usa, comprar o que está à venda, ir aonde todos vão, enfim, é uma cidade massificada, a maior parte da população evita ao máximo expressar qualquer tipo de questionamento ou opinião, portanto não há nicho de consumo e muito menos cenário. Entretanto já estamos vendo um bom sinal de mudança, com esforços vindo de várias frentes, públicas e privadas. A música na cidade tem ganhado espaço graças a esforços de bandas e músicos locais que estão conseguindo abrir, no peito, espaços alternativos para mostrar seus trabalhos. O teatro está no mesmo caminho, mas um tanto mais tímido. A literatura está bem atrás, até porque é um tipo de arte que demanda o malfadado esforço da leitura. As artes plásticas, o cinema e demais vertentes artísticas ainda não se encontraram por aqui, mas acho que com os esforços deste grupo que já está com a mão na massa e com o apoio de empresas e do poder público, ainda possamos tirar Umuarama da idade das trevas. Enfim, acho que ainda é cedo pra se dizer que existe um cenário por aqui, mas que algo legal está começando, está.


Há um incentivo tanto do público quanto dos órgãos do governo para eventos culturais aqui na cidade?

O incentivo à cultura pelos órgãos do governo municipal sempre foi muito deficitário em Umuarama. Nas gestões passadas, apesar de esforços de artistas e simpatizantes, a prefeitura não ligava muito e preferia investir em coisas materiais, que a população pudesse ver, ao invés de investir na capacitação cultural da cidade. Hoje colhemos os frutos disso, estou certo de que o vandalismo e a criminalidade é reflexo da ausência de cultura e de respeito pela cidade. Mas ultimamente tenho ficado bem esperançoso com a atual administração, me alivia perceber que está caindo a ficha. Perceberam que se eles investirem na capacitação criativa e cultural das pessoas, elas vão começar a respeitar o patrimônio público, dar mais valor à cidade pois esta lhe traz coisas boas. Não só diversão, mas também a perspectiva de um futuro digno.

O apoio do público é ainda muito pequeno, e há uma grande luta a ser travada. O umuaramense acha que alguém tem que fazer algo para mudar a situação, mas infelizmente não se coloca como o agente dessa mudança. Vive pedindo eventos, quer que tudo de legal aconteça na cidade, desde que seja na sala da sua casa e de graça. Me parece que, para eles, os artistas são seres mágicos e portáteis que vivem só de palco, reconhecimento e aplausos poucos. Tenho esperança na mudança deste quadro e estou trabalhando, junto com meus amigos artistas, e a todos os que se habilitarem, para que a arte e a cultura em Umuarama sejam uma realidade.

Um comentário:

Lucinha CC disse...

Olá!!!

Estou felicíssima de ter lido este texto. Foi de muita profundeza as suas palavras e principalmente, as que você citou dizendo que os umuaramenses querem se divertir... mas que seja de graça. Infelizmente, a única coisa que se vê hoje é um divertimento pobre, que é a poluição sonora nas ruas de Umuarama.
Parabéns!!! Se depender de mim, com certeza, você terá o meu total apoio.

Luci