quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Mais uma de amor.

Pra manter as coisas funcionando, um texto que publiquei na Culturanja de 20 Dezembro de 2009.


Dos Amores Prováveis



Aos domingos ele saia de casa para andar a esmo pela cidade. A semana era tão barra pesada no seu trabalho que eram raros os sábados com disposição para caminhadas. Sábado era dia de pé pra cima, de lavar a alma nos livros, nos filmes e no Jazz, seus benditos vícios. 

Como se regra fosse, caminhava solitário, sempre envolvido em suas altas filosofias transcendentais. Mas, naquele dia, se deparou com a mulher da sua vida. Congelou. Tremeu de baixo à cima. E ela continuava lá, sorrindo o mais belo sorriso do mundo, com o mais lindo olhar da galáxia, despertando nele as melhores sensações e intenções do universo. Recuperado do transe, que deve ter durado uns 15 minutos, talvez uns 12 segundos, pensou : “Como eu gostaria de poder falar com ela...ah! como seria bom...”. Resignado, mudou a rota e continuou sua caminhada. 

Durante a semana começou a ver a garota em mais partes da cidade. No trajeto para o trabalho, para o mercado, nos atalhos e rotas alternativas que pegava para fugir da rotina. Ela estava sempre por ali, saltando aos seus olhos. 

“Será que ela iria gostar de mim? Será que ela gosta de Quintana, Coltrane...quem sabe Tarantino, um bom vinho... whisky, sushi... palavras cruzadas?”. Imaginava-se com ela pelas noites, nos bate-papos da vida, nos eventos da empresa, em Bariloche... a conhecia detalhadamente em sua imaginação. E era tudo sempre bom. “Ah, se ela gostasse...”. 

As semanas se passaram e suas caminhadas dominicais não eram mais aleatórias, elas tinham roteiro e objetivo. Sentia-se inspirado, caminhava feliz e sorria ainda mais quando a via pelas ruas. Mas que frustrante era não poder chegar até ela. Limitava-se, então, a admira-la e seguir. “Que lástima... Que lástima!”. 

Mas o tempo, como um ônibus circular atrasado, passou voando sem nem dar chance de acenar, e tudo seguiu o inexorável caminho da impermanência. Não encontrava mais a bela mulher, que lhe coloria os sonhos, com tanta facilidade. Durante a semana, não a via mais no “caminho do amor” para o trabalho; nem nos “atalhos da paixão”, aos domingos. Rarearam as vezes em que olhar mais lindo dos universos todos lhe acariciava o coração. E chegou o dia em que nunca mais a viu. Para sua completa infelicidade, ela não estava mais em lugar algum. 

Com o coração partido, demorou a perceber, ou não queria acreditar. Não podia conceber que nunca mais veria a mulher da sua vida sequer uma outra vez, que nunca mais teria a chance de olhar para a garota do outdoor.


Reeditado em 26.08.2015

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3 comentários:

Mel!ss@ disse...

Como diria o Ton, o texto está uma lindeza, hehe... não tinha como não colocar no meu blog pra fechar a semana! Um grande beijo amigo, com mto carinho... =]

Liévin disse...

Não sei escrever crônicas e invejo mortalmente quem o saiba, e o faça bem. Parabéns, rapaz.

E Elvis, putz, vou organizar um festival, rever o Aloha, ouvir meus álbuns preferidos do Rei e até procurar aquelas raridades que lançam todo ano para dar uma atualizada. Elvis é foda, muito foda, meu Deus, como ele é foda!

Abreices.

Priscilla Mamus disse...

adoro!!

parabéns!!