quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Cadê o tempo que estava aqui?



Sequer deixamos o mês de Janeiro e meus ouvidos já colecionam, nesses poucos dias de fevereiro um bom número de frases no estilo : "Nossa, já é Fevereiro!"; "Uau! Passou um mês que eu nem vi!"; "Os últimos anos estão passando voando!"; e coisas do gênero. Lembro-me como se fosse ontem de que, há alguns anos atrás – sentimento cada vez mais verdadeiro –, esse tipo de comentário era feito em dezembro, o famoso "Nossa! Já é Natal!", ou, os mais atentos ao calendário davam esse toque, também, no meio do ano. Assustei-me ao identificar essa pauta já em Fevereiro, o segundo mês do ano. Estamos realmente impacientes, sequer demos chance do ano cravar ritmo à sua marcha e já o jugamos acelerado.

Não sei se é apenas aqui em casa e nos lugares os quais frequento, mas os relógios continuam contando, segundo a segundo, hora a hora as 24 que formam o dia. E por incrível que pareça, a terra continua correspondendo as expectativas, demorando essas mesmas 24 horas pra girar em torno de si mesma. E o Sol, há 149.600.000 Km daqui, se pudesse falar, seria testemunha do que eu digo e acrescentaria que, mesmo distante, ainda observa nosso planeta demorando 365 dias, 5 horas e 48 minutos para rodeá-lo, o que é comprovado pelos 365 dias riscados, um a um, nos meus calendários.

Se as nossas referências naturais de marcação do tempo continuam funcionando na mesma cadência de sempre, podemos concluir que é, então, mentira cabeluda dizer que o tempo está passando muito rápido. E não sendo o tempo o vilão, só nos resta um outro vilão a apontar: nós, os únicos elementos antinaturais de todo o Universo.

Desconectados da cadência do Cosmos, nada mais parece nos afetar. Se não houver nevascas monstruosas ou calor infernal, não nos afetam sequer as estações do ano, grandes marcadoras da passagem do tempo. Com as luzes sempre acesas, o que inclui a tela do smartphone, sequer percebemos se é manhã, tarde ou noite, além de não fazer diferença onde estamos, pois interagimos, em tempo real, com qualquer um que se encontre em qualquer lugar do mundo. Não sabemos mais esperar.

No tempo em que a velocidade máxima nas rodovias era de 80km/h; quando ainda tínhamos paciência para escrever cartas – com rascunho passado a limpo – e as esperávamos cruzarem continentes tanto pra ir quanto para voltar a resposta; quando aguardávamos a fruta amadurecer, o amigo estar em casa para atender ao telefone, a criança crescer e usufruíamos do já quase extinto horário de almoço, o tempo rendia mais, a vida rendia mais, mesmo com tudo demorando mais pra acontecer.

Lutamos tanto contra a rotina, que hoje nem a temos mais. E, pelo jeito, é ela que ajuda a marcar a passagem do tempo, como aquele amigo que te dá um 'oi' sempre quando te vê, e isso te faz lembrar que ele passo por ali. Hoje estamos tão distantes da realidade, distraídos com nossos fones de ouvido que nunca silenciam, Smartphones e bate-papos online em qualquer folguinha que nem vemos o tempo, nosso amigo, nosso "mano velho" – como diria a Fernanda Takai –, passando e nos acenando, cada vez mais energicamente, à sua passagem.

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