terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Do Que É e Do Que Deveria Ter Sido.

No finalzinho da tarde resolveu fazer compras. Ia receber alguns amigos em casa e seria uma ótima chance para reabastecer sua geladeira com aquela cerveja holandesa.

Entretido com as compras, colocava as holandesas no carrinho do mercado e pensava: "Mas aquelas dinamarquesas eram bem melhores... pena que não as vendem mais." E foi enquanto migrava do setor alcoólico para o dos petiscos que a encontrou. Um aceno de cabeça e um "Oi" cordial. "Ela, por aqui! Que mulher! Se ela for tão boa gente quanto bonita, eu largo essa vida boêmia por algo mais tranquilo com ela" - pensou. Mas eles nunca haviam conversado, só sabiam da existência um do outro por esses encontros raros, casuais e, infelizmente, rápidos.

Durante aqueles minutos no mercado se encontraram várias vezes por entre as gôndolas. Pensou até em puxar uma conversa enquanto a viu escolhendo algumas frutas. "Será que ela conhece aquela cerveja dinamarquesa?". Mas ele tinha esse costume de não tomar as decisões corretas na hora certa. A perdeu na sessão de frios.

Restou terminar suas compras, ir ao caixa e... e lá estava ela! No caixa ao lado, cheia de pacotes. Era a chance de ouro! Ofereceu ajuda com os pacotes, aceita com um sorriso que lhe derreteu. "Claro, obrigada...". Foram-se, juntos.

No caminho até o apartamento da garota, a conversa fluia interessante em meio a sorrisos descontraídos e olhares interessados. Haviam muitas afinidades e ela era, sim, muito boa gente. O rapaz se preocupava, pois via a grande possibilidade despedir-se da boemia em breve. "Talvez nem precise... vai que ela também gosta de umas noitadas no bar? Seria genial!".

Agora já sabia onde ela morava. Eram, inclusive, quase vizinhos. "Moro logo ali, na esquina da padaria." - disse ele. E, após entregar as compras, marcaram de se encontrar, naquela mesma noite, pra continuar a conversa. "Me liga às quarenta e dois e oitenta, senhor..." - disse ela.

"Heim!?!"

"Quarenta e dois e oitenta, senhor... dinheiro ou cartão?"

Acordou do transe. Ainda estava no caixa do mercado. "Aí, Caramba! Cartão. Débito. Por favor" - respondeu desolado. Olhou para o caixa ao lado a tempo de só conseguiu acenar um 'tchau' desengonçado e um sorriso - correspondidos, para o seu alívio. Mas não tinha oferecido a ajuda. Não a acompanhou até o apartamento. Conseguiu, da porta do mercado, apenas assisti-la indo embora, longe, cheia de sacolas. Continua sem saber onde ela mora.

6 comentários:

Thays Petters disse...

adorei! mercados rendem sempre uma boa história!

Lôrá disse...

:)
Muito bom!

Thalita Araújo disse...

Eu adoro o clima de supermercados.. observar as pessoas, principalmente tarde da noite naqueles 24 horas, pois as pessoas costumam ser tão..elas mesmas! =) Adorei o texto!

Tiago Lobão disse...

Gosto muito de fazer compras, me divirto em qualquer horário. Mas os 24 horas são os melhores. Não tem hora melhor de fazer compras do que de madrugada, com calma e tranquilidade. Além de, como você disse, Thalita, as pessoas são muito originais nessas horas.

Obrigado pelas visitas!

Rafael A. F. Zanatta disse...

Parece um conto (bem tosco, confesso) que escrevi pro e-book Contos Maringaenses, chamado "Menta".

A diferença é que se passa numa cantina universitária. E não tem esses parágrafos maravilhosos sobre a Carlsberg (porque pararam de vender!?).

Tiago Lobão disse...

Cara, você flagrou o Led Zeppelin e a Carlsberg da pira interior do texto! ahaah Tá malandro, heim! Tá roqueiro profissional! ahahahah

Mas até hoje eu me pergunto o por quê diabos pararam de vender a Carlsberg por aqui. É a melhor do planeta! Que saudade dela.