Nos meus 35 anos de vida, nunca presenciei um 7 de Setembro tão melancólico e distante das imagens que guardo na memória, das várias vezes que o brasileiro, orgulhoso, celebrava a pátria pelas ruas.
Toda a melancolia gerou páginas de anotações, julgamentos, generalizações e preconceitos que nada fariam para a construção do texto que inicialmente eu me propunha. Queria pacificar a alma e, como nos outros anos todos, orgulhar-me da Pátria que me acolhe. Queria um texto útil.
Quando me vi refletido no espelho da razão, veio-me à mente a frase de um antigo sábio: "Aquele que não tiver pecado, atire a primeira pedra" e, depois, a segunda chave para minhas questões: "Não faça ao outro o que não queres que te façam". Esta última é uma das regras de ouro de Confúcio (551 - 479 a.C), muito utilizada por Jesus Cristo (0 - 33 d.C), autor da primeira frase que citei. Se o teor das minhas anotações era o pedido pela Justiça, Honestidade e fim da Hipocrisia, eu não deveria, ao pedir, ser injusto em julgar sem conhecer; desonesto ao me isentar das minhas responsabilidades e hipócrita ao me considerar perfeito.
Eu estava exigindo honestidade, probidade, respeito e outras tantas coisas, mesmo tendo eu sido, muitas vezes, desonesto, improbo, preconceituoso e inconsequente com meus atos. Um ser notoriamente imperfeito cobrando perfeição de seres também imperfeitos. Que autoridade moral eu tenho para agir de forma tão injustiça? Restou-me o envergonhado exame do meu orgulho e vaidade.
Finalmente me enxerguei, mudei minha relação com tudo: país, povo e governantes. De um ilusório ser perfeito e "inoxidável" – como diria um criativo compatriota –, passei a um realista igual, fraco e falível frente paixões e vícios, carcomido pela ferrugem do ego, como somos todos os seres humanos.
Mudar a si mesmo já é esforço enorme, mas certo de que sou o único ser o qual posso efetivamente mudar, ficou evidente a desnecessidade do desgaste e lutas extras para se mudar os outros à força. Se a nação é um conjunto de indivíduos, a diferença no todo só se fará pessoa a pessoa.
Sobre os nossos líderes, não posso garantir que não erraria tanto ou mais se estivesse em seus lugares. Mas, se cabe exclusivamente a mim o exame da minha consciência e a lide com a culpa dos meus atos, cabe a eles fazer o mesmo. E da mesma forma em que nas situações difíceis eu preciso de ajuda para perceber o erro, me levantar da lama e repará-lo, eles também precisam. Desconheço as guerras internas que cada um enfrenta diariamente. Por isso não serei eu quem tornará ainda mais pesado o imenso fardo que eles já carregam em suas próprias consciências, assim como não gostaria de ter alguém que multiplicasse o peso do meu. Pelo contrário, agradeço as lições, exemplos e reflexões que me trouxeram e me tornaram uma pessoa melhor nesse Dia da Pátria.
Inocentes ou culpados, não me cabe julgar. Confio na justiça humana e, ainda mais, na de Deus. Se quero um Brasil melhor, serei eu, antes de tudo, um melhor brasileiro.
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