sexta-feira, 4 de março de 2016

Em caso de incêndio



"When your heart is on fire, you must realise, smoke gets in your eyes." - HARBACH, Otto.


Smoke Gets In Your Eyes é o nome de uma bela canção do The Platters, antigo grupo vocal norte-americano, cuja letra ensina a perceber se é amor ou é cilada dizendo que "quando nossos corações estão em chamas, preste atenção, a fumaça chega aos olhos". Parte da trilha sonora do filme Além da Eternidade (Always, 1989), ela é o tema de amor do casal protagonista, dois brigadistas aéreos da equipe anti-incêndio que toma conta de uma floresta. Peculiar, não é?

É claro que, como uma boa equipe anti-incêndios, a qualquer sinal de fumaça – não nos olhos, mas na floresta –, eles arriscam a vida e, com muita coragem e aventura, conseguem apagar os incêndios. Nada mais lógico pra quem foi exaustivamente treinado pra isso. Pra nós, que nunca quisemos ser Bombeiros, combater incêndios e salvar vidas, é uma luta bastante distante. 

Então vamos trazer isso mais pra perto. O que fazer no caso de um incêndio em nossa casa, local de trabalho, ou lugar no qual estivéssemos? Seguir as regras do protocolo anti-incêndio! Se for de grandes proporções, chamaríamos os Bombeiros e nos manteríamos em segurança; em casos de pequenas chamas é possível ajudar no pré-combate usando extintores de incêndio ou, pelo menos, retirando de perto do fogo objetos e seres vivos que nos são preciosos e que possam alimentar o incêndio, até que o socorro capacitado chegue. Agora, a missão já fica mais próxima de nós, não é mesmo?

Então, ouça o alarme. Olhe ao lado e veja por si mesmo: discussões inflamadas, relações faiscantes, cabeças quentes... e a fogueira das vaidades flamejante como nunca; milhares de homens e mulheres bomba, dizendo "que se exploda". Há um grande incêndio no mundo, nossos corações estão em chamas há fumaça nos olhos mas, infelizmente, não é pelo amor, como diz a canção dos Platters.

Queimar o filme dos desafetos, jogar o outro na fogueira, são expressões e atitudes ainda muito comuns entre nós, lembrando um costume do Sec. XVII quando, sem muitas opções de entretenimentos, as famílias – notem bem : fa-mí-li-as – amarravam um gato dentro de um saco e o jogavam na fogueira pra se divertirem vendo-o queimar e grunhir de dor. Pelo menos, com os gatos, fazemos cada vez menos desse tipo de coisa.

Ora, se o mundo está em chamas, que tal seguirmos as instruções de "em caso de incêndio", ajudando para que o estrago seja o menor possível? Estar atento para apagar incêndios nos amigos; vizinhos; família e em nós mesmos pode não ser nossa profissão, mas é um dever. Não há solução mais lógica e responsável pra quem está cercado por fogo de todos os lados que não seja esforçar-se para apagá-lo. Muitos, ainda hipnotizados pelas chamas, agindo como agíamos nas cavernas, irão repreender e atrapalhar para preservar o espetáculo.

Ignorar as chamas só aumenta o risco de nos queimarmos. Ao menos, chamemos os Bombeiros! E trabalhemos para a que fumaça em nossos olhos volte a ser apenas indício de amor, como diz aquela velha canção.

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