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Mudei-me
Mudei-me de endereço aqui em São Paulo. Não resido mais na saudosa Consolação, vim para o Bela Vista. Como já disse pra alguns amigos: "não sei se subi de vida, mas o morro eu sei que subi! E os aclives todos estão aí pra confirmar."
Após a carga do carreto, já passado o horário de encerramento do turno do zelador, combinei com o síndico que deixaria o chão da entrada do edifício limpo, pois o dia era chuvoso e a sujeira foi grande. Pequei o esfregão e fiz o serviço. Quando estava próximo à porta de entrada, faltando alguns degraus, dei-me conta de que estava limpando local que poderia ter sido o último que vistei, por conta de um encontro um tanto perigoso. Continuei a limpeza agradecendo, sinceramente todo o local, degrau por degrau, soleira, porta e tudo mais que, mesmo nas horas difíceis, me trouxe coisas boas. Saí deixando os degraus do Edifício Ninfa e a minha alma bem limpas.
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Processo
Dia desses me perguntaram se tinha sido difícil perdoar a pessoa que me feriu, gravemente, em frente ao meu antigo endereço, na Rua da Consolação, aqui em São Paulo. Respondi que, no início, como em qualquer início, foi difícil, mas os 4 dias no hospital, olhando o ferimento, me deram tempo de sobra para refletir sobre o caso. E que, agora, tem sido a cada dia mais fácil.
Sim, tem sido. Pois perdão, pra mim, tem se mostrado um processo contínuo e não uma única atitude. Não é esquecer, sob pena lembrar quando não deve; não é relevar, sob pena de guardar rancor eterno. Perdoar é não revidar uma atitude maléfica com outra, é compreender, mesmo através do pequeno recorte da realidade que dispomos, a parcela de responsabilidade que nos coube na história. E sempre existe uma, mesmo que minúscula.
Mesmo que encerrado o ciclo vicioso de rancores, as cicatrizes são inevitáveis e seguem sempre conosco, por isso, é necessário o reexame diário e amoroso de cada uma delas. Se despertarem sentimentos ruins, o perdão ainda não está por perto; se bons, o perdão já está mais próximo. E é só a prática que leva à perfeição.
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Colheita
Muitos ainda se assustam com as pessoas, hoje em dia. Atitudes bárbaras, violentas, sexistas e materialistas. Agem como um agricultor que plantou sementes de cebola e se entristece ao ver que a horta não gerou morangos. Na natureza as regra são claras: colhe-se o que se planta. Durante décadas plantamos ideias mesquinhas e conceitos deturpados sobre como deveríamos nos relacionar com a vida e entre nós mesmos. Plantamos ganância, egoismo, vaidade, sensualidade desregrada, materialismo excessivo, ao ponto de, em pleno 2016, com tanto conhecimento e possibilidades disponíveis para a felicidade, ainda encontramos pessoas que se dizem vazias, tristes, e que não dão valor à vida própria ou alheia.
Entretanto, apesar do quadro triste, dessa colheita sombria da maioria, outros tantos estão colhendo o amor, as alegrias e a gratidão que plantaram. É a prova de que é possível encontrar e cultivar as boas sementes nessa mesma terra que tentam nos fazer desacreditar. Então, aproveitemos que, como na lavoura, após cada colheita, se prepara a velha terra para novo plantio, e preparemos a terra da nossa alma, da nossa sociedade e plantemos, agora atentos, as boas sementes que, certamente, todos trazem no coração.
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