"As pessoas são bonitas quando se presta atenção nelas, né?". Foi o que Mônica me disse, durante uma das aula sobre Espiritismo que frequento. Já se passaram meses e tal frase ainda me comove todas as vezes nas quais me volta à mente.
Eu não sabia pra quem a colega estava olhando quando lhe assucedeu tal pensamento, mas olhei ao redor, agora com mais atenção, pra cada uma das pessoas que dividiam aquela fatia de espaço-tempo comigo. Tantas feições, tantas histórias diferentes. Era impossível mensurar o que continha cada ruga, cicatriz ou fio de cabelo que estavam diante dos meus olhos. E quantos olhos! Que olhares! Felizes, tristes, cansados, esperançosos, curiosos... resultados de aventuras tão secretas, até pra elas mesmas. E esse enigma, esse segredo inacessível, revestia tudo com a aura mágica da beleza que a colega me assinalava.
Perceber, com mais atenção, as pessoas ao meu redor lembrou-me dum exercício que fazia quando adolescente, lá em Umuarama. Tinha o costume de andar, durante o por-do-sol ou alta noite, pela avenida Getúlio Vargas, tentando sentir as pessoas dentro de cada casa em frente da qual passava. Quantas eram? O que estariam fazendo? O que estariam sentindo? Algumas estariam no quarto, outras na sala de TV. Alguém na cozinha? Algumas felizes; outras amarguradas; outras apaixonadas, esperando o telefonema que lhes acalentaria o coração; outras dormindo, se preparando para o próximo dia. Eram tantos os sentimentos e, mesmo que imaginários, os sentia bem reais e me conectava com a vizinhança toda, me tornava parte daquilo tudo.
Mas, como diz meu amigo Nevilton, "o mundo se pôs a girar", e cada vez mais rápido. O tempo para esse capricho, esse exercício de se conectar às outras pessoas se dissolveu na rotina e, só ali, naquela sala de aula, notei que raramente voltava a essa prática que tanto gostava e tanto me fazia bem. Antes eu prestava atenção nas pessoas até mesmo sem vê-las, e isso havia se tornado raro até com elas na minha frente.
Agora, sempre que caminho pela rua, dou mais atenção a quem passa ao meu redor e vejo que a Mônica estava certa. Há muita beleza em todo lugar. Até tentei refazer o exercício adolescente, ontem à tarde, no meio da Avenida Paulista. Quase caí em convulsão quando senti as milhares de pessoas que estavam ali, num raio de 100 metros de mim, pela rua; pelo metro; nos ônibus e carros; espalhadas pelos andares de tantos prédios; descansando; trabalhando; comprando livros, roupas; tomando café; comendo macarronada; apressados; tristes; contentes; preocupados; realizados; vazios...
É, sim, muita coisa pra se dar atenção. Assusta. Mas a vida é esse plural magnífico mesmo, é cheia de coisas pra se dar atenção, conectar-se e sentir, enriquecer-se. Com prática e foco, tudo fica mais seguro e saudável. Não é preciso criar barreiras, mas, sim derrubá-las. Só assim será possível perceber que não só as pessoas são bonitas quando se presta atenção nelas, mas que tudo é bonito quando se presta atenção.