Agora eu preciso que você vá
Caminhe segura e distante
Me deixe vazio, mas só
Temos muita vida adiante
Dói deixar partir
Transformar tesouro em passado
Mas precisamos novamente sorrir
E não o faremos lado a lado
O poema acima é um poema de amor, fiz em 1997. Mas, hoje, ele me soou diferente, se encaixou com sentimento de hoje, com o adeus, de certa forma doloroso, mas necessário que damos à Dilma Rousseff que, acorrentada à um presidencialismo de coalizão, uma horripilante invenção brasileira, e a um partido político desestruturado, não governava mais. E não governaria, independente dos esforços que fizesse, tendo em vista o ninho de víboras ancestral do qual estava cercada e que, juntamente com todos nós, também ajudou a alimentar. Infelizmente, mas de forma que se construiu inevitável, são tais víboras que voltam ao poder.
É pressuposto que um presidente consiga governar, assim como é pressuposto para um romance, que se consiga amar e, mesmo com as maiores dificuldades e desafios, os interessados no sucesso da empreitada, se esforcem para o seu sucesso. Infelizmente, não me lembro de ter visto isso em nenhum momento na história de qualquer governo brasileiro. O jogo sempre foi conquistar mais para si, em detrimento do outro, seja este o povo ou a coligação "inimiga". E não há relacionamento duradouro quando uma das partes quer levar a vantagem.
As máscaras caem, inevitavelmente, e todas elas cairão. E com elas, as expectativas criadas, os projetos articulados, o futuro que estava em construção vai por terra. É por isso que se termina, é por isso que qualquer fim dói.
Dilma não foi a primeira e não será a última, é tradição nacional trocar de chefe de estado de forma inconsequente e irresponsável, para assistir interesses particulares. Desde a nomeação de Dom Pedro II, um jovem de 14 anos de idade como Imperador do Brasil isso vem se repetindo através de golpes e complôs.
Mas é possível acabar com essa dança das cadeiras desgovernada. Começando agora, que o debate político está em todas as casas, pode demorar algumas décadas, mas é possível retomar as nossas responsabilidades, as rédeas das nossas instituições e restaurar a sua legitimidade e sua conexão com a vontade popular, o que hoje, definitivamente não existe.
Por agora, não tenhamos medo, o futuro próximo não será nenhum pouco diferente do que sempre vivemos, afinal são os mesmos governantes, nada mudou. O tempo provou que a "chance de mudança" oferecida era falsa. Sejamos mais atentos da próxima vez. Aproveitemos a chance de amadurecer politicamente que estamos tendo, aproveitemos para aguçar o nosso faro, o nosso tato. Assim como acontece em todo fim de relacionamento, nos coloquemos sob análise sincera e façamos o mea culpa.
Definitivamente, não é tempo de choro, não é tempo de desespero, é tempo de darmos o próximo passo, um passo mais seguro, mesmo que um tanto doloroso, do que todos os passos que já demos até hoje.