Ao voltar pra casa, de ônibus, sentei-me ao lado de um senhor que estava ao telefone. Tão próximos que foi impossível não ouvir a conversa que ele estava tendo com alguém que, pelo contexto deveria ser a sua filha.
- Olha, tá muito difícil pra mim. Tá muito pesado. Não estou conseguindo bancar essas compras que vocês me pedem. As coisa estão caras no mercado. Acho que a gente precisa rever essa lista. Eu sei... eu sei que vocês precisam comer, mas, poxa, certeza que vocês estão comendo melhor do que eu! Eu estou comprando, pra vocês, coisas que eu nem tenho na minha casa. Sabe, eu quero dar do bom e do melhor pra vocês, mas tá ficando difícil. As coisas estão difíceis, o dinheiro tá curto. Acho que vocês tinham que economizar um pouco mais, fazer render melhor o que vocês tem aí. Você tá me entendendo? Não precisa comer essa carne toda, todo dia. É, eu sei... claro... eu sei, vocês estão se esforçando também, eu sei. Mas, você me entende? Tem que reforçar isso aí, tá? Evitar desperdício, essas coisas. Sim, tudo bem. Tô, eu tô bem, só preocupado com isso aí, não tá fácil, né? Hum... e ele tá bem? Tá faltando alguma coisa? Uhum... leite em pó. Tá. Tá bom, eu levo o leite em pó. Tá, vou ver o que eu faço, eu dou um jeito, eu levo o leite em pó.
Cheguei ao meu ponto, desci. E levei comigo um nó na garganta.
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