sexta-feira, 14 de outubro de 2016

A vida como obra de arte


No recém formado Estado Alemão, oficialmente unificado em 1871, surgiu a necessidade de se criar uma cultura em comum para que houvesse uma ligação cultural entre todos os territórios e, assim, surgisse o sentimento de nação entre todos. Para esse esforço se colocaram ao trabalho grandes intelectuais e artistas alemães, dentre eles, Friedrich Nietzsche e Richard Wagner.

Apesar da imagem de velho ranzinza que criaram de Nietzsche, havia na sua filosofia essa busca pela perfeição do homem e das ideias, de equalizar o que se pensa com o que se faz. Nada de novo! Afinal, desde que a humanidade descobriu o pensamento que se busca esse caminho para uma vida mais confortável e justa, mais perfeita o possível. E, para Nietzsche, essa busca pela perfeição da vida, era a mesma busca do artista. O que Wagner fazia na arte, tentando criar a arte completa, onde música, teatro, literatura e o que mais existisse, pudessem, unidos, se potencializar, criando uma forma de arte perfeita e potente, era o que todos deveriam fazer na vida, através do pensamento, unificar e dar coerência às ideias e atitudes, transformar o homem comum no Além-Homem, ou Super-Homem (Übermensch), perfeito e potente, como deveria ser a Nação Alemã.

Apesar de controversos os conceito do belo e do perfeito, podemos senti-los em intuições, na alma ou no subconsciente, quem sabe até mesmo no inconsciente. Por mais que busquemos realizar estes sentimentos e intuições, jamais conseguimos reproduzi-los na matéria que manipulamos, pois o perfeito e o belo são intangíveis. E a beleza dessa busca está justamente nessa intangibilidade, na impossibilidade de se materializar o objetivo, pois o esforço nunca termina, há sempre algo mais a melhorar.

Nietzsche, o velho ranzinza, se iguala, então, aos poetas como Neruda, Rimbaud, Fernando Pessoa, Jorge Luis Borges e, também, aos profetas, como Confúcio, Lao Zi, Buda, Jesus Cristo (que ele tanto combatia) na campanha por essa busca do melhorar-se e melhorar o mundo e, como ele mesmo disse, de considerar a "vida como obra de arte". 

Como não lhe dar razão? O processo da arte é um eterno revisar, aparar de arestas, repensar e refazer. Transpor isso para a vida é maravilhoso, dá ânimo. Considerar a vida como uma obra de arte à caminho do belo, eternamente a se melhorar, em busca da atitude perfeita no melhor lugar, feito palavras de um poema, ou cores e curvas mais bem distribuídas, feito em escultura ou pintura, ou ainda cuidar atentamente da nossa história, como as narrativa em literatura.

Construir a vida como uma obra de arte nos coloca em uma relação mais atenta e amorosa com a nossa existência e escolhas. Além de que entender do nosso processo, das dificuldades que temos, nos coloca atentos às dificuldades que os outros também têm. Atenção à nós e empatia com o próximo. Quem diria que um conceito tão bonito pudesse vir de Friedrich Nietzsche?


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