sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

A dramática hora

São difíceis as despedidas. Dar adeus é ato de fé. Dar adeus é dar a Deus, mesmo. É ceder o controle e estar bem com isso. É resignar-me, reconhecer-me impotente sobre as rédeas do que eu não comando. É fiar-me ao futuro, confiar no reencontro sem depender reencontros. É confirmar-me quite, satisfeito com o que se deu até ali. A dramática hora de deixar partir.

E como abster-me em paz se tudo é aleatório; se a lógica da vida não é constante; se não há uma ordem sobre o caos do Universo infinito? Como abster-me em paz se a única força confiável é a minha; se o único ser potente sou eu? Como suportar a minha ausência nos fatos e a ausência dos fatos em mim? Como abster-me em paz? Se dar adeus é dar a Deus, a quem darei se não há Deus? A quem darei se não suporto só? Meu orgulho não me deixa, minha vaidade me suplanta. É por isso! Por isso são difíceis as despedidas!

Sim, são difíceis. São difíceis as despedidas, insisto. Pois adeuses são atos de fé. E dar adeus é dar a Deus. E há Deus. E Deus há de nos ajudar.

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