sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Foi o que me disse o Rio Grande

Passei o fim de ano num pesqueiro às margens paulistas do Rio Grande. Do outro lado da ponte, em terras Sul Matogrossenses, a mitológica cidade de Aparecida do Taboado, que pude visitar rapidamente, porém, sem encontrar qualquer morena, ainda mais alguma que me deixasse 60 dias apaixonado, como na canção de Constantino Mendes e Darcy Rossi. Mas o que eu nunca mais vou esquecer são as lições que a natureza de lá me deu. Essa, por exemplo:

Com a construção da represa de Ilha Solteira, no meu querido Rio Paraná, que se forma há poucos quilômetros de onde eu estava, onde o Rio Grande e o Rio Paranaíba se encontram, formou-se um grande alagado, deixando submersa grande área que antes era floresta. E os resquícios dessa mata podem ser vistos através dos vários galhos das árvores submersas que surgem do meio das águas, algo natural em rios e lagoas de represas.

Mas o espanto veio ao perceber que, mesmo com a maior parte da árvore submersa, vários desses galhos estavam floridos na pequena porção deles que estava fora da água. Com folhas e flores.

Sabe-se lá quantos metros de água turva, fria, separam as raízes dessa árvore das primeiras réstias de sol que ela alcança acima do espelho d’água; quantos golpes e fortes correntes enfrentam o seu tronco submerso. É, mesmo assim, ela resiste, não se faz de rogada e faz o que deve ser feito, a coisa mais bonita que pode, sua razão de ser: ao ser tocada pela luz do sol, florescer.

Que lição de resiliência recebi da natureza! Uma árvore, que não pode se mover e nem raciocinar para contornar os desafios, se mantém firme e não perde a chance de executar os planos para os quais foi feita. Lição que sempre me lembrarei, emoldurada pelo fim da tarde e a brisa úmida do Rio Grande eo barulho das ondas atingindo o casco do barco: não importam os obstáculos, é preciso fazer o que nascemos pra fazer. E não tenho dúvidas de que tudo nasceu para, lindamente, florescer.

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