“Eu sugiro a todos os meus amigos que eles parem de ver as notícias, porque as notícias tramam para te amedrontar, para te fazer sentir pequeno e solitário, para te fazer sentir que sua mente não é sua."
Este é o refrão da mais nova canção do Morrissey, Spent my day in bed, lançada neste dia 19 de setembro. E, afastando os exageros de qualquer teoria da conspiração sobre o assunto, ele tem razão. Não é novidade o poder de convencimento de uma informação chancelada pelos dos grandes veículos midiáticos que, culturalmente, durante nossa história social, foram eleitos como filtros válidos e eficientes de qualquer informação. Se está nas redes de TV, nos grandes periódicos ou nas rádios, é sinal de que o assunto é importante, é verdadeiro e merece nossa atenção. E eles sabem muito bem disso e se utilizam desse expediente para se beneficiarem.
E nós, descuidados que somos, acabamos reféns deste mundo editado e incompleto, onde existe a prevalência do mal em detrimento do bem. Onde há mais desastres e guerras do que belezas e atos de caridade. Sequer lembramos que a preferência pela veiculação destes fatos se dá pela grande audiência que eles geram, culpa de muitos gatilhos psicológicos e culturais nossos, que já são bastante conhecidos e utilizados contra nós. E é por isso que o refrão do Morrissey é um alerta e sugestão importante.
Entretanto, abster-se da informação não é o melhor método. Deveríamos aproveitar a polarização da produção de informação que a tecnologia das últimas décadas nos proporcionou, e começarmos a relativizar mais ainda esta chancela de veracidade e qualidade da informação, colocando em xeque o poder de manipulação da "grande mídia" e criando meios de averiguar a realidade acerca dos fatos divulgados. Entretanto, ainda existe uma grande maioria do mundo que não tem o acesso a essa nova via de informação ou, quando tem, tem a preguiça, ou não tem o costume de consultá-la. Não fomos educados para questionar e averiguar tudo o que ouvimos por nós mesmos, fomos acostumados a delegar essa nossa obrigação – dentre tantas outras – a o que, antigamente, chamávamos de "veículos oficiais" e, hoje são as redes sociais, de critério altamente questionável, nos levando a um fundo de poço escuríssimo, onde a verdade dos fatos é um mero adereço descartável, um lugar que muitos tem chamado de Pós-Verdade. Mas fico com os que chamam isso de retrocesso ou burrice, o que devemos combater com todas as forças.
Por isso, numa época em que todos podemos gerar informação de longo alcance, que nos escapa do controle, é importante relembrarmos da responsabilidade de quem fornece informação e pelas influências psíquicas que ela causa. E, também, não menos importante é a de quem recebe a informação, de como a interpreta e como a repassa. O desconforto e o conforto do mundo passa por nossas mãos e mentes, de uma forma bastante prática, através das redes sociais. Aquela notícia falsa, opinião equivocada, discursos de ódio ou preconceituosos, mesmo que pareçam inofensivos, não são, pois são replicados aos milhões e, nessa reiteração constante contribuem para o grande mal estar generalizado que se espalha pelo mundo, gerando desanimo, depressão e seus desdobamentos mais funestos. Uma mentira repetida mil vezes continua sendo uma mentira e a responsabilidade por todo o mal que ela causa é, sim, toda nossa.