terça-feira, 30 de setembro de 2014

Neurociência, Gastronomia e Urubus.



Sempre fui muito curioso sobre tudo. Me tornei um viciado em conhecimento. Preciso, diariamente, saber dos causas, processos e resultados de todas as coisas que me apareçam na frente. Graças à boa conduta do universo, me tornei, também, um viciado em leitura. Quem bom! Consegui unir a fome e a vontade de comer com uma colher bem grande e um prato bem fundo. Só não consegui um estômago imenso nessa metáfora; meu cérebro não retém muita coisa, talvez pela falta de treino quando mais jovem e maleável.

É por isso que escrevo, pra poder lembrar das minhas próprias conclusões posteriormente. Prática que foi bastante abalada depois da leitura da "Arte de Escrever" do Schopenhauer, uma antologia de textos sobre o ato de escrever, retirados do seu livro mais célebre o "Parerga e Paralipomena". Meu processo criativo ficou seriamente avariado, releguei ao baú do esquecimento anos de apontamentos e idéias quando me deparei com tais "dicas" sobre o ofício de escritor, esse ofício de digestor, sintetizador, criador de conceitos novos - obrigatoriamente novos e nada menos que brilhantes - para que valham a pena serem lidos. Reproduzir idéias alheias é trabalho que qualquer máquina copiadora é capaz. Ter uma opinião que já existe é fácil, até um animal é capaz de seguir a manada pela vida toda e morrer tranquilo e realizado. Pois é, foi assim que meu querido amigo "Schoppz" me atentou - no melhor estilo Phill Spector de convencimento - sobre a importância e a beleza da criação e da síntese, afinal, em suas próprias palavras: "Não é possível alimentar os outros com restos não digeridos, mas só com o leite que se formou a partir do próprio sangue.". Calma! Reproduzir pequenas citações é permitido, dão credibilidade à idéia.

Sim, alimentar os outros. É com esse conceito em mente que deveria agir o escritor (e os artistas, em geral): com o respeito de um cozinheiro, que usa os melhores ingredientes, os mais saudáveis e deliciosos; ou, aproveitando da metáfora do mestre, o respeito de uma mãe, que se alimenta da melhor forma para seu leite, produto do seu sangue, ser o mais nutritivo possível para seu filho. Afinal, a arte - como qualquer pessoa, por mais miserável que seja, sabe - é o alimento da alma. 

Aí você diz: "Como você é antiquado! Nem tudo precisa ser arte, todos têm direito de se expressar da forma que bem entender.". Concordo e assino embaixo. A liberdade de expressão é uma dádiva divina,  assim como o conhecimento - que criou a poesia e a bomba atômica - também é. Tenho mesmo que parar com essa mania de ditar regras pra tudo e ser mais "prafrentex", eu sei.

Reconheço que estou longe da genialidade e, mesmo tomando todos os cuidados para não usar produtos de qualidade inferior na minha 'cozinha', já peço desculpas por qualquer indigestão. Mas, vai... sei que você também concorda que 'és o que consomes' ou, como me disse um grande amigo: 'urubu que come pedra...'


Ps:
A imagem deste texto é de autoria do estúdio Brosmind (projeto What's Inside).

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá! Andei passeando pelo blog e gostei muito do que li, sinto que estarei sempre por aqui, "petiscando" alguma coisa... Parabéns pelos textos, agora vou precisar procurar pelo livro ;) Abraço, Alessandra Ayres de Londrina - PR