Herman já tinha sido bancário, professor e fazendeiro, tudo para ajudar sua mãe e sete irmãos a não passarem muito aperto depois que o pai morreu. Um dia resolve ser marinheiro e, à bordo vários navios, vive muitas aventuras pelo oceano pacífico, participa de motins e chega até mesmo a viver alguns meses com a tribo de canibais Typee, das Ilhas Marquesas, na Polinésia Francesa. (um pouco mais sobre as Ilhas Marquesas)
Em 1844 abandona a vida de homem do mar. Casa-se, em 1847, com Elizabeth e aproveita a bagagem cheia de histórias para escrever alguns livros, que foram grandes sucessos na segunda metade dos anos de 1840, o que garantiu a Herman e sua família algum status e conforto.
As Ilhas Marquesas. Aí até eu, heim Herman!
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Apesar de parecer, o Herman de quem falamos não é um personagem fictício, ele é o escritor norte-americano Herman Melville, que em 1851, escreveu Moby Dick, ou A Baleia. O livro, publicado em três fascículos, foi um fracasso na época e levou nosso amigo Herman ao ostracismo. Quando ele faleceu, em 28 de setembro de 1891, há exatos 117 anos atrás, o obituário do New York Times registrava o nome de Henry Melville e ninguém se importou, de tão apagada estava sua fama.
Entretanto, o maior fracasso de critica e público de Herman Melville é o livro pelo qual ele é mais lembrado hoje em dia. O romance Moby Dick conta a história do jovem Ismael que, decidido a trabalhar na marinha mercante embarca no Pequod, navio baleeiro do capitão Ahab e o desenrolar da história transforma o livro numa obra de arte, que eu, sem titubear, coloco entre os 10 melhores livros da minha lista pessoal.
Talvez as divagações de Ismael (personagem narrador do livro), as significações metafóricas de cada personagem e o viés psicológico que permeia todo o texto, tenham deixado o pessoal de 1851 – ainda não apresentado à Psicanálise, pois Freud nasceria apenas em 1856 – bastante entediado e por fora do assunto. O desinteresse causado pela distância entre a obra e o público pode explicar o grande fracasso, naquela época, de um livro tão interessante e tão bem escrito que é, nos dias de hoje, um marco na literatura ocidental.
Arte para a capa e contra-capa da primeira edição de Moby Dick.
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A riqueza de detalhes sobre barcos, métodos de pesca de baleias e curiosidades marítimas em geral, escrito com total domínio de causa – já que, como dito antes, Melville passou anos de sua vida trabalhando na marinha mercante dos Estados Unidos –, somada com a atemporariedade do tema, cria uma relação de credibilidade entre o autor e o leitor, que se torna sedento por cada nova página de Moby Dick.
A vontade doente de vingança do Capitão Ahab; a tripulação alucinada que entra na onda do chefe, colocando em risco a própria vida; as opiniões de Ismael, que dentre todos é o mais bem nutrido de razão, tudo isso se apodera do leitor e o leva junto à caça daquele feroz diabo branco, que pode ser uma simples baleia albina, ou o símbolo das mais variadas obsessões humanas. E cabe ao leitor, munido da sua própria história de vida, decidir quem é quem.
P.S.: Veja a rota do baleeiro Pequod.
Originalmente publicado no Culturanja de 3 de outubro de 2008.
Um comentário:
É sem dúvida um grande livro, grande história. Moby Dick é considerado como um monumento da literatura mundial, um magnífico dramatização do espírito humano em um estágio de natureza primitiva. Recentemente, vi o filme No Coração do Mar (I compartilhar o link das próximas transmissões: http://br.hbomax.tv/movie/TTL603317/No-Coracao-Do-Mar) Ron Howard, e é um espetáculo visual muito interessante que recebe cenas específicas com força suficiente. Uma grande história, bons desempenhos, melhores efeitos especiais e cenas de ação enérgicos, mas talvez o script é um pouco dispersos querendo cobrir muitos tópicos, a mensagem final não deixa de ser claro e não consegue mover como deveria. Vou ver como é o livro.
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