terça-feira, 21 de abril de 2015

Não estamos podres. Não somos lixo.



O que mais se ouve hoje em dia é que o mundo está podre, ou melhor, a humanidade está podre. Afinal, o mundo, o planeta Terra, esse globo de rocha que nos abriga está como sempre esteve, forte, seguindo sua marcha e, certamente sobreviverá à nós. Enfim, fala-se muito dessa coisa podre e malcheirosa na qual nos tornamos, cancro altamente contagioso que nos levará à extinção por nossas próprias atitudes.

Por muito tempo me juntei ao coro dos descontentes e engrossei o vozerio dos que proclamam o fim da humanidade e sua causa mortis como "apodreceu". Hoje, discordo. É claro que nossas atitudes inconseqüentes podem nos extinguir sim, e disso não se duvida, afinal a lei de causa e efeito é universal, imutável e imprescritível, e a ela responderemos em todos os níveis de atuação, da mais íntima e pequena à maior e mais global. O que quero dizer é que discordo de que estejamos podres.

Se prestarmos atenção na natureza e em seus ritmos, podemos perceber que tudo no universo segue uma marcha natural desde o nascimento até a morte. É a famosa relação nascer-crescer-amadurecer-morrer. Ou seja, para todas as coisas, da escala subatômica mais ínfima até a imensidão cósmica, a marcha natural demanda, antes da morte e depois do nascimento, o amadurecimento. E não adianta espernear, nós não somos superiores às regras do Universo e jamais iremos controlá-las.

Prefiro, então, pensar nessa outra dinâmica e defender a idéia de que, pelo contrário, a humanidade não está podre e, sim, muito longe disso. Ela sequer atingiu a maturidade, e como é abundantemente observável e evidente em todos os setores do universo natural do qual fazemos parte, não há como apodrecer antes de se estar maduro. Além do que, só se apodrece depois que a vida acaba por completo, depois de morto, e nunca antes. O que é vivo não apodrece.

Penso, também, que a idéia da humanidade podre é perigosa, e nos remete ao tratar-nos feito lixo, que se descarta, abandona, enterra-se tudo bem fundo e deixa-se para trás, antes que o fedor aumente ou alguém pegue alguma doença. E sabendo de outra lei natural, bastante clara de que o que é morto não volta à vida, a humanidade podre já teria passado do ponto, já estaria morta, fedendo e inútil, não teria mais solução e só nos restaria abandoná-la. E abandonando a humanidade, abandonamos a nós mesmos e damos um impulso extra para o nosso próprio sofrimento através dos tempos.

Portanto, é essencial para a construção de uma nova e melhor realidade, entender que a humanidade não está podre, pois nunca esteve madura. É importante que entendamos e respeitemos o ciclo natural das coisas e alinhemos nossa dança ao ritmo universal. Isso nos faz ter uma nova postura, mais compreensiva e pró-humana, nos dá esperança, paciência e força para continuarmos a trabalhar continuamente, interna e externamente, para o bem.

Sempre que se fala em mudanças na humanidade, existe a impressão de que seja um trabalho coletivo, de mobilização global, que devemos sair por aí gritando, brigando e obrigando as pessoas a se comportarem de outras maneiras, de imediato. Agindo assim, inviabilizamos o trabalho pela simples impossibilidade de se mobilizar todo o mundo num único esforço, e isso, além de nos deixar cansados e desanimados antes do tempo, ajuda a criar conflitos que só dificultam ainda mais a coisa toda. O trabalho que se propõe é solitário, é profundo, cada um em si mesmo, pois os nossos valores íntimos e as nossas atitudes no mundo são a única coisa que cada um de nós tem o poder de mudar no universo. Ninguém jamais mudou, muda ou mudará o outro sem que esse aceite mudar por si mesmo, através de uma decisão própria e indelegável.

Enfim, se cada um cuidar exclusivamente de si antes de cuidar do vizinho (exceto, é claro, quando ele pedir por ajuda), nos melhoraremos dia-a-dia, auxiliando a marcha evolutiva natural à qual estão sujeitas todas as coisas do universo – o que inclui, por óbvio, a todos nós – rumo à tão desejada maturidade e, quando for o seu tempo, ao envelhecimento e à morte natural, em paz.


Nenhum comentário: