Não sabemos quando na história humana atribuímos ao verbo "criticar" o aspecto exclusivamente negativo. Hoje, criticar significa falar mal, mas o dicionário sempre nos lembra que criticar é apenas avaliar, julgar. Ou seja, também é possível criticar, avaliar ou julgar algo positivamente.
O processo crítico depende de que quem critica tenha algum conteúdo, argumentos que dialoguem, que o conectem com o que está sendo avaliado, seja ele uma obra de arte, um costume, ou uma pessoa. Para avaliar algo é preciso compreendê-lo, entender o processo que o fez ser o que é e o onde ele pretende chegar. Assim, após entendido, refletido, digerido, emite-se o juízo positivo ou negativo.
Quando não entendemos o que estamos avaliando, achamos feio, falamos mal. E arrogantes que somos, concluímos que falar mal é mais fácil do que tentar entender e se conectar. Talvez seja daí, pela maior incidência de julgamentos negativos, pela facilidade de produzi-los, nos desacostumamos com a possibilidade da existência da crítica positiva e nos condicionamos de que crítica é algo sempre negativo.
Mas, sem remorsos! A culpa não é só nossa. Não nos preocupamos em entender o outro lado, porque não fomos treinados pra isso. Sócrates sugeria o uso de três filtros para averiguar se uma opinião merecia ser emitida: Bondade, Verdade e Utilidade. Ou seja, uma opinião só mereceria ser emitida se fosse para o bem, fundada na verdade e tivesse alguma utilidade. Desta forma, sem uma cultura crítica, que deveria nos ser ensinada nos bancos escolares, nem sequer sabemos da existência de Sócrates, quem dirá do que ele disse. E, assim, unindo desconhecimento com a impressão de que temos que emitir opinião sobre tudo, essa urgência opinativa que as redes sociais nos trouxeram, falamos muito e sem pensar, tanto que poucos se lembram das próprias opiniões, se afogando em um mar de contradições sem perceber.
É hora de despertar! A crítica negativa é o atalho do preguiçoso, o ato falho do desavisado, como também o são as atitudes negativas. É mais fácil desdenhar do que cogitar; jogar fora do que consertar, seja um eletrodoméstico ou um relacionamento; é mais fácil dizer que não gostei do que assumir não ter entendido e me esforçar para entender. Tudo sendo imperfeito, é mais fácil apontar alguns dos milhares defeitos, que obviamente existirão, do que analisar um pouco mais a fundo e identificar as exceções da regra, onde não há defeitos ou erros, e tecer algum elogio.
Criticar é um ato de conexão e só se conecta quem se coloca no mesmo nível, compartilha dos mesmos valores, mesmo que temporariamente e, por isso, é um exercício de humildade e empatia. A ausência de humildade e o orgulho nos faz sofrer e causar sofrimentos sempre que avaliamos ou somos avaliados, não importa se bem ou mal. Então, combater as fortificações o ego, que nos transformam em seres invencíveis e perfeitos, nos ajudaria a tecer e a receber críticas de uma forma mais madura, mais caridosa e humilde e, quem sabe, tomarmos providências para nos melhorar. Talvez, dessa forma, recolocaríamos no vocábulo "críticar" a sua tão bela e útil dualidade que, entre o bem e o mal, nos ajuda a chegar, sempre, num lugar melhor.
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