sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Você mudou muito?

Vagava pela internet quando apitou o Facebook. Era uma pergunta: "você mudou muito?". Tão clara e objetiva mas, nos primeiros segundos, espantei-me por não saber a resposta. O outro lado esclarece que, lendo meus textos, me percebeu diferente.

Lembrei-me de como eu era, há anos atrás, quando nos encontramos pela última vez. Lembrei-me de como eu era o ano passado, e me vi agora, como estou. É, eu havia mudado, mas não tinha percebido que a mudança interior já estava se mostrando ao exterior. E um exterior distante, pois quem percebeu essa mudança mora na Alemanha. Devo ter mudado bastante mesmo!

Finalmente consegui a resposta e, com convicção, respondi: "Sim, mudei muito". E como foi bom poder responder isso! Imaginei a tristeza e a frustração se a resposta fosse um "mudei nada! Continuo na mesma vida chata de sempre". Que alívio! Que bom que eu mudei!

Então passei os dias seguintes tentando me lembrar quando essa difícil e prazerosa jornada pela mudança começou. Cheguei até 1994, quando eu tinha 14 anos de idade e, espantado com a "vida adulta" que meus colegas já viviam, comentei para um amigo: "Me sinto atrasado vendo eles fazendo todas essas coisas que eu ainda não faço”. E a resposta que esse amigo me deu - os amigos, sempre eles! - subverteu, pela primeira vez, a realidade à minha frente: "E quem disse que é você o atrasado? E se forem eles os adiantados?".

De queixo caído, com o cérebro faiscando como nunca, senti, pela primeira vez, que somos nós que significamos as coisas e não o contrário. Aceitar a vida, passivamente, sem qualquer processo crítico é criar um calabouço para si mesmo. Rompi, naquele momento, os grilhões e aceitei o chamado da consciência.

Embarquei numa aventura em busca da felicidade, da verdade das coisas, do auto-questionamento, auto-conhecimento e auto-superação, tão ou mais emocionante quanto a saga de um Hobbit pela Terra Média ou a de um jovem bruxo britânico. É uma jornada sem mapa, cujo caminho a seguir é revelado durante um percurso cheio de enfrentamentos interiores e exteriores, com altos e baixos, armadilhas, cativeiros e redenções, como em toda boa aventura.

Mas não há jornada se há medo, e não há vivencia sem erros. Se há um fim, existe um começo e, principalmente, um meio, um caminho, um processo. Desde aquele início, em 1994, já andei por vários caminhos diferentes, montando acampamento em lugares que é melhor nem mencionar, de tão horripilantes. Mas o desconforto que ali encontrava me fazia mudar, seguir adiante, para qualquer outro lugar, se melhor ou pior, não importava, desde que diferente. Importava era tentar algo melhor.

E a cada novo caminho, a cada novo lugar visitado, uma nova paisagem se agrega e traz, melhor do que respostas, mais perguntas, mais fome, mais sede, mais motivos para seguir. Ser perseverante é uma virtude essencial para o aventureiro nesse tipo de peregrinação. Que por ser longa, possivelmente eterna, não haverá vitória apenas ao final, mas a cada passo dado, a cada vez que a resposta for "sim" para quando te perguntarem se você mudou. E você, mudou muito?

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