quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Chuveiro, não faça assim comigo!

Incrível como, durante o banho, as melhores ideias aparecem. E é mais incrível ainda a forma que elas desaparecem assim que começamos a nos secar. Dá a impressão de que ao esfregarmos a toalha na cabeça nos as espirramos fora da cachola pra nunca mais voltarem. Tem algumas que, literalmente, vão pelo ralo e sequer esperam você desligar o chuveiro para se dissolverem completamente, escorrendo corpo afora, junto com o sabão e a sujeira, desaparecendo esgoto adentro.

Diz a Bíblia que Deus, quando criou o mundo, pairava entre as águas. E até que faz bastante sentido imaginar Deus, no seu chuveiro Big Banho Cósmico, entre as águas, tendo ideias geniais e, bem... estamos nós aqui. A diferença é que Ele, perfeito, consegue transpor a barreira do Box Celestial e executar seu plano. Nós, ainda não.

Me intriga o que faz uma simples chuveirada se transformar nessa chuva de ideias, nesse criadouro de gênios. Vários estudos dizem que as melhores ideias saem mais fácil de quem tem local de trabalho bagunçado do que de pessoas muito organizadas, que sofrem mais pra parir ideias. E, em geral, banheiros são lugares organizados. O shampoo vai estar sempre ali, ao lado do condicionador; o sabonete, que muda de cor de vez em quando, sempre estará na saboneteira; as toalhas mudam de cor também, mas estão sempre no lugar de toalhas. É um lugar tão monótono que ninguém vai lá passar um tempo, vai só quando realmente precisa. Exceto, pelo jeito, as boas ideias.

Aqui em casa os azulejos são brancos, o que deixa tudo mais chato ainda. Mas existem aqueles azulejos com padrões variados, nos quais podemos ficar imaginando centenas de coisas desenhadas entre uma lavada no sovaco e um enxágue de cabelo. Mas eles não aumentam a criatividade. Já tive boas ideias nos dois ambientes, comprovando-se, então, a não influência dos padrões morfológicos do revestimento cerâmico na geração de novas conexões neurológicas ou sinapses dotadas de significação pertinente na vivência do sujeito. Só pra tirar uma onda de científico.

Mas eu poderia tirar uma onda conspiratória, veja bem: considerando que a França tem mais cientistas renomados e prêmios Nobel que o Brasil, será que eles tomam mais banhos do que a gente e inventaram essa história de "banho só no sábado" pra nos enganar e nos passar pra trás na indústria da inovação? Se prestarmos atenção, os outros europeus e os americanos do norte também não são muito chegados num banho e vivem de vender suas ideias pro mundo. Acho que estamos sendo enganados! E, ora, com essa crise hídrica, a gente pode pensar em tirar isso à limpo... bem, talvez nem tão limpo... meio sujinho, e tal, mas a chance tá aí.

Parece que é só durante o banho, sem ter onde tomar notas, com água escorrendo da cabeça aos pés, a mente fica tranquila para criar. O que não se repete no sofá, na escrivaninha ou na hora do café. Deveria! Pois, olha, foi difícil evitar que, junto com a água e o sabão, também fosse pro ralo a bela ideia de crônica que eu tive pra hoje.

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