Escrita e jardinagem são exercício de paciência. Ambas demandam observação atenta e aplicação estética com o fim de ajudar a criatura cuidada a manifestar o máximo de suas potencialidades, entre tudo o que já veio programado pela semente.
Dos menores arbustos às maiores árvores, do haikai aos romances épicos, a complexidade, a delicadeza e a densidade de um texto varia muito, como varia a flora por toda a biosfera, a ponto de não a conhecermos por completo. Portanto, também é muito variado o método de cultivo e cuidados para cada espécime, o que nunca afasta a atenção e a técnica, inata ou adquirida, no trato do jardim.
Plantar, regar, podar, levar ao sol. Assistir crescer, deixar dormir, esperar pra ver se no dia seguinte a muda pegou melhor. Folhas, palavras, ramos, frases, terra, mente e papel que, após golpes de caneta, tesoura, regador, borracha, pá e cursor, vão do vaso dos rascunhos ao jardim, para admiração do público, publicadas.
Como paciente jardineiro, ser escritor é se revestir da lida cuidadosa e constante sobre suas criaturas. Quanto mais atento, mais notará necessidades de nova poda e cuidados adicionais. O 'mistério da fé' dessas profissões irmãs é conseguir perceber a cria madura para defender-se e responder ao ambiente sem ser manipulada por nós e, então, nos afastarmos dela para vê-la interagir na paisagem. Constantemente haverão chamados para nova aparagem, um texto publicado pode ser revisitado ilimitadas vezes, pois ele é vivo como uma planta, se expande em novos ramos, gera sementes e novas mudas para que, com elas, se continue o ciclo, fazendo ainda melhor o que já se fez nas várias experiências passadas. E, por isso, semeamos sempre.
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