terça-feira, 10 de novembro de 2015

Soneto Continente

A Augusto dos Anjos


Ao ver-me relutante e imanifesto
Aos prazeres que, supunha, eu sentia
Chamar-me-ia de louco inconfesso
Em cujas veias corre anestesia

Mas, oculto, sob largas, fundas crostas
Há furioso vulcão que não se mostra
A derreter-me a casa da razão
A fumegar-me, a lava, o coração

Tal qual velho, seguro continente
Por eras desbastado, fiz-me forte
Enclausuro, fundas, as vis torrentes

Sou planeta que, ao longe, crê-se inerte
Mas funde vida, calma e docemente
Sobre a força e o caos da endosfera ardente


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