sexta-feira, 22 de abril de 2016

Abraçar o mundo.

Lembro-me da tristeza que senti durante a primeira vez em que mudei de cidade. Eu tinha quase 9 anos de idade, e sai da pequena Cruzeiro do Oeste, para a ainda menor Altônia, ambas no Noroeste do Paraná. Deixaria os meus primeiro amigos, meus primeiros romances infantis, meus primeiros lugares cativos e tudo o que me era valioso. Minha vida estava toda ali, mesmo que poucos anos, mas naquele tempo era toda a vida que eu tinha. Ao contrário do que pensei, foram poucos dias de tensão e. nos rápidos 2 anos nos quais morei em Altônia, fiz novos e valiosos amigos, novos amores não mais tão infantis, e vivi, por conta deles e do novo cenário, novas experiências que eu jamais viveria se não tivesse me mudado de cidade.

E já era hora de mudar de novo, dessa vez para a grande Umuarama, polo da região. Novamente tive que lidar com os "adeuses", as saudades e a sensação de planos frustrados, interrompidos. Foi menos dramático, com 11 anos de idade, eu achava ótima a ideia de ter amigos em duas cidades diferentes e conquistar mais alguns em uma terceira. Me senti até especial quando descobri que a maioria dos meus amigos jamais tinham sequer saído da cidade.

Dos 11 aos 26 anos de idade me envolvi profundamente com Umuarama, e meu círculo de amizade e conhecimento aumentaram em proporção geométrica. Sem perder contato com os antigos amigos, sempre presentes, eu compreendia, na prática, que amizade e afeto reais são coisas que, uma vez conquistadas, jamais se perdem.

Então apareceu a oportunidade de mudar de país. Era imperdível a chance de expandir minha experiência e conhecer mais pessoas e lugares. Dessa vez, deixaria a família, os amigos, os amores, os projetos e, enfim, toda a minha história, mas sair da zona de conforto não doeria mais tanto. Eu me colocaria à prova outra vez e só havia um resultado possível: me transformar em alguém melhor. 

Mudei-me e renasci em Los Angeles, Califórnia. Foi como me despir de uma roupa velha, fora de moda e vestir uma nova, que coubesse melhor em mim. E foi tudo muito fácil sem a bagagem daquela vida antiga. Ao mesmo tempo, senti que, mesmo há milhares de quilômetros de distância, as relações já construídas continuavam firmes, enquanto as novas se expandiam para o mundo, me relacionando com gente de outros países. Pela minha coragem e desprendimento, de cidadão de Cruzeiro do Oeste, eu havia me tornado um cidadão do mundo, de verdade.

Hoje, moro na cidade de São Paulo, minha quinta e, certamente, não a última cidade. Desnecessário falar das conexões que acontecem aqui. Também não mencionei os amigos que fiz por causa da minha carreira como músico, pela qual já passei por todas as regiões do Brasil.

Mais do que lugares, conquistei amigos verdadeiros, que estão espalhados ao redor do mundo, com os quais posso contar; pedir e oferecer abrigo e ombro amigo. Esse mundo que me recebe com carinho em toda parte, só foi possível pela coragem e receptividade aos convites da vida para ir cada vez mais longe. O conhecimento da vida, das paisagens, dos mistérios dos lugares e das pessoas, compõem quem eu sou, e farão parte de mim pra sempre, fazendo com que o quando mais longe eu vá, maior e mais plural eu me torne, e, quem sabe, me transformando de um cidadão do Mundo em um cidadão do Universo.

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