Impossível não se inspirar com a história de Giovanni di Pietro di Bernardone (1182-1226), uma vida de abnegação e pobreza, porém rica de amor e em comunhão com Deus. Francisco, Francesco em italiano, era o apelido pelo qual era conhecido por gostar da França. Ficou conhecido como São Francisco de Assis, considerado a maior personalidade cristã após Jesus Cristo, o fundador da Ordem Franciscana, uma das ordens católicas mais influentes e famosas, conhecida pelo seu voto de pobreza.
Nos últimos meses, além da vontade de rever o filme "Irmão Sol, Irmã Lua" (Fratello Sole, Sorella Luna, 1972, Franco Zeffirelli), tem me voltado ao pensamento uma das orações mais tocantes que já ouvi, cuja criação é erroneamente atribuída à São Francisco – vide google –, mas que foi, por causa de seu conteúdo, adotada oficialmente pelos Franciscanos. Ela também é conhecida como "Oração pela Paz":
"Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz; Onde houver ódio, que eu leve o amor; Onde houver discórdia, que eu leve a união; Onde houver dúvidas, que eu leve a fé; Onde houver erros, que eu leve a verdade; Onde houver ofensa, que eu leve o perdão; Onde houver desespero, que eu leve a esperança; Onde houver tristeza, que eu leve a alegria; Onde houver trevas, que eu leve a luz. Ó Mestre, fazei com que eu procure mais consolar, que ser consolado; Compreender, que ser compreendido; Amar, que ser amado; Pois é dando que se recebe; É perdoando, que se é perdoado; E é morrendo que se vive para a vida eterna."
É sabido dos poderes dos mantras, meditações e das preces. Para nós, Cristãos, a oração do "Pai Nosso", ensinada, como dizem as tradições, pelo próprio Cristo, é a mais completa. Não se questiona tal completude e poder, entretanto, vale assinalar que é uma oração na voz passiva, onde, humildemente pedimos e deixamos tudo nas mãos de Deus. Com a mesma humildade e resignação, a oração franciscana nos coloca na voz ativa. Pede, mas pede forças para executar o plano, capacidade e proteção para colocar a mão na massa, como fez São Francisco, que abandonou o conforto para ajudar o próximo e não mediu esforços para uma real vivência cristã, conseguindo respeito e admiração da Igreja Católica, mesmo na idade média, período de difícil relação do clero com o povo, por causa de sua autoridade moral inatacável.
Evidente que a reflexão é sobre o trabalho. Se existe um mundo melhor a ser construído, a matéria-prima e os obreiros somos nós mesmos, no sacrifício cotidiano do supérfluo, dos vícios e das vaidades. Dizem que, no fim da vida, mesmo depois de tando desprendimento material, Francisco ainda não se sentia em paz consigo, pois estava decepcionado em ver, rica e cheia de posses, a ordem que havia criado para ser pobre. Foi durante uma conversa com Santa Clara, grande amiga e fundadora do ramo feminino dos Franciscanos, que ouviu ainda lhe faltar um último ato de desapego: liberar-se de toda a sua obra, que já não era mais sua. Entendendo o recado, Francisco finalmente encontrava a paz. Faleceu com com 44 anos de idade e, a seu pedido, foi sepultado nu.
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