domingo, 17 de abril de 2016

Livro : A Caminho da Luz [1939, Emmanuel e Chico Xavier]

Comentário aos capítulos XVI ao XX - da queda do Império Romano ao Renascimento.

Link para download gratuito do livro completo.



Capa da primeira edição do livro, de 1939.

Francisco Cândido Xavier, famoso médium espírita, psicografou 412 livros durante os mais de 70 anos de trabalho ininterrupto pelo espiritismo. Isso dá uma média de 6 livros por ano, uma produção impossível para um homem comum, ainda mais se considerarmos sua pouca formação escolar; doenças oculares como o estrabismo no olho direito, o deslocamento do cristalino no esquerdo; a profundidade filosófica e científica dos textos; além do tempo utilizado em outras atividades como a psicografia das famosas cartas, as viagens, as palestras, entrevistas, o trabalho nos Centros Espíritas e as coisas naturais da vida como dormir, comer e tomar um banhozinho, pois ninguém é de ferro.

Um desses livros, publicado em 1939, é o "A Caminho da Luz". Psicografado por Chico Xavier e ditado pelo espírito de Emmanuel, o livro conta, pela ótica Espírita, o desenrolar dos fatos desde a criação do planeta Terra até o advento da Doutrina Espírita, em 1857, através de Allan Kardec e, ainda, aponta o trajeto a seguir, dando elementos para entendermos a história contemporânea e o nosso futuro. Como explica o próprio Emmanuel, no Antelóquio do livro : "Não deverá ser este um trabalho histórico. A história do mundo está compilada e feita. Nossa contribuição será à tese religiosa, elucidando a influência sagrada da fé e o ascendente espiritual, no curso de todas as civilizações terrestres.".

Entendo que a intenção maior do livro é chamar a atenção para a existência da providência divina e nos lembrar que ela age, amorosa e incessantemente, através dos tempos, por meio de uma equipe espiritual, formada por entidades muitíssimo evoluídas, que agem em nome de Deus, e cuidam para que os planos Dele se mantenham no eixo. Ainda melhor nas palavras de Emmanuel, registradas nos primeiros parágrafos do capítulo "I - A Gênese Planetária": "Rezam as tradições do mundo espiritual que na direção de todos os fenômenos do nosso sistema existe uma Comunidade de Espíritos Puros e Eleitos pelo Senhor Supremo do Universo, em cujas mãos se conservam as rédeas diretoras da vida de todas as coletividades planetárias. Essa Comunidade de seres angélicos e perfeitos, da qual é Jesus um dos membros divinos...".

Introduzido o contexto do livro, passo aos fatos.

Para o curso regular de Espiritismo da Federação Espírita do Estado de São Paulo, o qual estou cursando, a sala foi dividia em grupos e cada qual cuidou de resumir e explicar, num seminário de 15 minutos, um conjunto de capítulos. O grupo no qual participei cuidou dos capítulos XVI ao XX, que falam desde a do Império Romano até a chegada do Renascimento, passando pela Idade Média.

Durante quase um mês de conversas e troca de informações com os companheiros do grupo, tentei, sem sucesso, ordenar as informações pra que pudéssemos apresentar o trabalho, com clareza, frente à sala. Mesmo tendo sido a segunda vez que lia o livro, a linguagem complexa e o grande número de nomes, datas e referências me embaralhavam  como sempre  as idéias. Até que chegou a manhã do inevitável dia da apresentação, resolvi, então, anotar alguns tópicos para, pelo menos, não me perder durante a fala.

Sentei-me, armei-me de uma folha de almaço e uma caneta, pedi ajuda e, por alguns minutos, olhei para índice do livro, aos capítulos referentes ao meu grupo, enquanto tentava, mais uma vez, organizar as idéias. Iniciei a primeira anotação e, o que deveria ser alguns lembretes se transformou em vários parágrafos de um texto no qual tudo fazia um sentido que até minutos atrás não existia. Depois de 30 minutos, escrevendo sem parar, sentindo as idéias se ajuntarem na cabeça e escorrerem até o papel, eu tinha duas páginas e meia de almaço, resumindo todo o conteúdo referente aos capítulos do meu grupo de trabalho. Inspiração. Agradeço aos amigos invisíveis pela ajuda. Algumas leves correções estilísticas depois, o texto me pareceu tão bom que resolvi publicá-lo aqui no blog para quem, assim como eu, teve dificuldades no entendimento destes capítulos ou precisa de alguma chave a mais para entender um pouco mais do livro todo. Porém, aviso que o mergulho aqui não é fundo, ainda não tenho essa capacidade.

Antes, vale lembrar que, de acordo com o livro, nos planos de Deus para a humanidade, a missão do Império Romano era de ser um facilitador para a disseminação do Evangelho, a Boa Nova que facilitaria a religação do homem materialista com a espiritualidade universal e as Leis do Criador. Depois de várias tentativas durante os tempos, contando com a ajuda de outros emissários como Zoroastro, Confúcio, Buda, etc, desta vez, a Mensagem seria trazida pelo próprio Cristo, o Espírito mais evoluído da Terra, o Governador Planetário. Por isso, através da ajuda invisível e da encarnação de grandes espíritos, Roma consegui se expandir através da quase totalidade do mundo ocidental antigo e conhecido, tornando-se o maior império em abrangência geográfica e organização estrutural que havia existido até então.

Segue, daqui, o texto apresentado em sala:

Tendo em vista a falha de Roma em cumprir sua missão de ser a base social para a expansão das ideias cristãs, principalmente por causa de se vincularem e promoverem ideias materialistas como a vaidade, o orgulho, a sensualidade e a belicosidade, os espíritos encarregados, da mesma forma que auxiliaram na formação do Império Romano, tomaram providências para que ele fosse desmontado, cessando com a ajuda. Além do mais, há de se considerar que atitudes materialistas e não cristãs, como as de Roma, só poderiam resultar na instabilidade social e na impossibilidade da manutenção da ordem política em uma área tão grande. Afinal, é natural a instabilidade e a destruição de tudo o que não segue as Leis Divinas, que também podem ser chamadas de Leis Naturais, por serem perfeitas e imutáveis através da eternidade.

A Igreja Católica, nascida do Cristianismo, vinculou-se ao estado romano e foi infectada pelos mesmos valores e costumes distorcidos, que gerariam muitos problemas para a instituição no futuro. Mas tais problemas, como as atitudes autoritárias e centralizadoras, também trariam coisas boas para a humanidade, séculos depois. Como, por exemplo, o Protestantismo, que veio por Lutero, movido pela insatisfação com as posturas dogmáticas católicas, libertou a Bíblia dos armários secretos dos mosteiros e a colocou nas mesas do povo.

Com o desmonte do império, a força política que unia aquele emaranhado de nações e culturas cessou, fazendo com que cada um procurasse o seu lugar ao sol e sua própria organização, mas sem a estrutura e a cultura romana, que foi abnegada, deixada de lado, pois ela simbolizava o antigo algoz, do qual todos queriam manter distância e, se possível, esquecer para sempre. Este movimento levou a humanidade tempos de ignorância, a Idade Média, Idade das Trevas, a Era do Feudalismo. E sem a visão Espírita é impossível de explicar o infinito amor e a misericórdia divina frente a tão obscuro período.

Apesar de ter sido quase uma volta ao total primitivismo, tudo sempre acontece sob a vigilância misericordiosa da equipe espiritual que, entre várias ações, enviou o espírito que foi um dos mais nobres imperadores romanos, leal trabalhador do Cristo, que reencarnou como Carlos Magno, e reorganizou a estrutura do mundo ocidental, tão fragmentada após a queda do império romano. Durante os 46 anos de seu governo, Carlos Magno deixou uma nova base cultural e administrativa que possibilitaria a continuidade dos planos divinos.

Portanto, durante o período da Idade Média, sem a refinada estrutura cultural e social de Roma, a humanidade voltou à lida diária com a terra, o que gerou a valorização do trabalho e a conexão, novamente, e de forma mais fundamental, com a natureza. E através dessa existência mais humilde e sem qualquer conforto, ressurgiu, no coração dos homens, de forma mais forte, o sentimento da existência de um deus que a tudo rege. Foram, assim, a fé e a resignação retrabalhadas íntima e profundamente na humanidade, através das dores, doenças e outras inumeráveis dificuldades comuns àqueles tempos.

Nessa época, a Igreja Católica estava cada vez mais poderosa e parecia intocável. Era manipulada por espíritos infelizes e ignorantes que, tentando a todo custo evitar a expansão do Amor e da Caridade pelo mundo, usaram a instituição como protagonista de atividades bárbaras e reprováveis pela Lei de Deus, como as Cruzadas e a Inquisição. Todo o esforço era válido para abafar as verdades que colocariam a humanidade à caminho da luz e, em xeque, tudo o que alimentava seus vícios e desvios morais que tanto lhes davam prazer.

Entretanto, como já dito, os trabalhadores espirituais do Cristo se mantiveram sempre vigilantes e ativos, enviando, de tempos em tempos, emissários do alto para auxiliar a humanidade a manter-se no caminho, ou, pelo menos, não se afastar muito dele durante esta parte escura e difícil da jornada. Para isso, encarnaram, tanto na sociedade civil, quanto entre os nobres e o clero, baluartes da mensagem cristã que, munidos de amor e misericórdia, traziam ideias e métodos novos para melhorar as condições de vida material e espiritual das pessoas. Religiosos, Filósofos, Inventores, todos de coração e alma iluminados, mantiveram vivos o pensamento e as atitudes benéficas. Vide Santo Agostinho, São Francisco de Assis, São Tomás de Aquino, Roger Bacon, entre outros.

Se é através das limitações que temos as melhores inspirações, durante as provas e expiações da estreitíssima Idade Média, a humanidade se desarmou das vaidades de outrora e se colocou novamente sensível aos pequenos detalhes da vida e do Universo, despertando, mais um vez, como não acontecia desde os gregos, a curiosidade que motivaria as descobertas, as invenções, os questionamentos e demais eventos que desaguariam no Renascimento. Transformando, até mesmo, o próprio corpo humano, objeto tão cotidiano, em algo sublime, divino.

Assim sendo, com uma nova base social e espiritual instalada, à partir do Sec. XIV, vários espíritos iluminados começaram a reencarnar trazendo novos e mais avançados conhecimentos em todas as áreas. Ciência, Filosofia, Religião sofreriam à partir daí, grandes revoluções e, auxiliado pela invenção da imprensa, por Guttemberg e pelas grandes navegações da Escola de Sagres, que possibilitariam o intercambio e a colonização do novo mundo, o conhecimento se espalharia sem fronteiras.

Tal cenário preparou a humanidade, principalmente a europeia, para receber os espíritos que pavimentariam a estrada até o Iluminismo, a grande era das luzes, cujo ápice foram os séculos XVIII e XIV. Estava, enfim, todo o planeta, novamente preparado para uma nova fase, uma nova tentativa de instalar, no coração da humanidade, o Evangelho.


Nenhum comentário: